CAPITAL GANHA COM A CRISE E TRABALHADOR PAGA A CONTA

 

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Já diz o ditado popular: “quem senta na ponta, paga a conta”. E por falar em conta, eis a questão: a fatura da crise, quem paga? A pergunta é direta mesmo e carece de reflexão em meio à maior instabilidade política do País dos últimos anos. Enquanto a agenda do impeachment esvazia  os demais temas de interesse da nação, a conta da crise segue em cifras crescentes, e a má notícia: ela não fecha igual para todos.

Prova disso, são as recentes mazelas socadas goela abaixo da classe trabalhadora que, historicamente, é a personagem que “senta na ponta”. As medidas provisórias 664 e 665, que restringem direitos aos trabalhadores, já deixaram de ser provisórias e foram efetivadas;  o PL 4330, que expande a terceirização e precariza as relações de trabalho no país, continua sendo uma ameaça cada vez mais próxima; os aumentos de impostos e de tarifas públicas, como a energia elétrica, e todo o restante, mais do que deixa claro quem está pagando e quem pagará pela crise.

Nesta semana, uma rápida orquestração partidária buscou enfraquecer ainda mais o atual governo e sacramenta o real desinteresse de forças políticas na retomada econômica do País. De um lado, a desfaçatez de quem é capaz de “vender a mãe” para se manter no poder. De outro, um governo que resiste às manobras golpistas sustentando a prerrogativa de que, até agora, não se comprovou crime de responsabilidade relacionado ao mandato da presidente Dilma. Juristas renomados são claros e contundentes a respeito: “sem base legal, o impeachment na atual conjuntura é ameaça à democracia”.

Todos esses fatos fazem surgir correntes de pensamento entre as variantes sociais, inclusive entre o movimento sindical. “Abriu-se uma guerra pública que só serve ao interesse dos detentores do capital. Nessa guerra de poderes, enquanto eles travam a deles, criada para atender a seus próprios interesses, as ameaças aos direitos dos trabalhadores são reais e estão aí, em curso, na forma de projetos de lei tramitando no Congresso”, analisa o presidente do Sindimovec, Adriano Carlesso.

Ainda em meio a essa guerra, o trabalhador é obrigado a assistir sua renda cair assustadoramente. A renda média do trabalhador diminuiu 7,4% em janeiro de 2016, ante janeiro de 2015. Sem contar que, em 2015, o trabalhador brasileiro teve que enfrentar o chamado “ajuste fiscal”, que significa deixar de fazer investimentos e cortar gastos, com o objetivo de economizar para pagar juros da dívida pública e “acalmar” o mercado financeiro.

Nessa onda, direitos sociais básicos também sofreram cortes drásticos em seus orçamentos no ano passado, como a Educação (R$9,4 bilhões ou 19,3% do total) e Saúde (R$11,7 bi ou 11,3%). E para comprovar como a corda arrebenta para o lado mais fraco, a população se acostumou a ver notícias informando lucros recordes das grandes instituições brasileiras.

Para se ter uma ideia, o lucro do Itaú teve aumento de 15,4% em 2015, num total de R$ 23 bilhões.  Já o Bradesco, 17 bilhões, um aumento de 13,9%; o Banco do Brasil, 14,4 bilhões (28% a mais). A Caixa Econômica Federal, R$ 7,2 bilhões (0,9%) e o Santander 6,6 bilhões (13%).

Paralelo a isso, vem a retração do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de toda a produção de riqueza realizada dentro do Brasil. A estimativa é de que o PIB em 2016 sofra queda de 3,1% e projeção de crescimento de 0,35% da economia em 2017. “E ainda há quem diga que a luta de classes não existe mais”, pondera Carlesso.

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