Quem você é no cenário social e político?

Um certo senhor de engenho percebeu que seus escravos começaram a se enfurecer com a vida que levavam. Temeroso de uma revolução, passou a analisar quem de dentro daquele grupo de “trabalhadores” poderia ajudá-lo a resolver o problema. Observador, o senhor de engenho, de boa lábia e fala fácil, notou que dentre eles havia um negro que obedecia a tudo sem questionar, repreendia voluntariamente os outros negros revoltosos dizendo que aquela vida eles tinham porque mereciam e ainda fazia cara de felicidade quando o patrão passava.

O senhor de engenho chamou esse escravo de lado e disse: quer ser igual a mim, ter os dotes que tenho e a vida que levo? Basta ficar ao meu lado e entregar todos os revoltosos do grupo. O negro ficou em dúvida sobre a oferta, até que o patrão lhe deu roupas usadas para vestir – que eram melhores que as que ele tinha – e separou-lhe as sobras do almoço – que era melhor do que a comida dos escravos. O pobre negro, iludido com o que ouvira e esperançoso de tornar-se patrão, começou os trabalhos.

Aos poucos foi delatando seus companheiros e companheiras, e vendo cada um deles morrer das maneiras mais cruéis possíveis. Nasceu então o Capitão do Mato. Um negro, escravo, que renegou sua cor, sua origem, suas crenças e sua família, em troca da ilusão de ser como o patrão: branco e rico.

Porém, a vida desse sujeito não durou muito. Quando a revolta acalmou e os escravos pareciam estar mansos, o patrão já não precisando de seus serviços, o devolveu à senzala. Lá, ao ter que voltar a comer o que sobrava da comida dos porcos e ao ter que voltar a fazer o trabalho duro e pesado, além de dormir no chão sem nenhum conforto, percebeu que foi usado. Entretanto, ainda que estivesse triste por retornar à senzala, seu orgulho continuava intocável, pois quem experimentou da vida melhor uma vez, não poderia perder a pose.

E ele continuou, por si só, sendo Capitão do Mato. Não pelo patrão, mas por ele e pelo orgulho dele. No fim de sua vida morreu sozinho, sem ninguém para cuidá-lo, abraçá-lo ou confortá-lo. Foi enterrado em uma cova rasa pelos capatazes da fazenda e nunca mais foi lembrado. Ao contrário dos escravos que não se conformavam com a vida que levavam e se revoltaram, fugiram, criaram seus Quilombos e ajudaram outros escravos a se libertar de suas correntes.

Nomes como Ganga Zumba e Zumbi estão imortalizados nos corações de quem quer se libertar e não aceita ser Capitão do Mato. Pois o Capitão do Mato é só mais um escravo que se acha patrão e come os restos que o verdadeiro patrão ainda não jogou aos porcos.

Quem você é no cenário social e político? O patrão, o escravo revoltoso ou o Capitão do Mato?

Pense bem nisso.

 

Por Sérgio Domingos – Vice Presidente do Sindimovec.

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