CRISE GERA 111 ACORDOS DE REDUÇÃO DE JORNADA E SALÁRIOS; SINDICATOS BUSCAM GANHO REAL

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O Ministério do Trabalho e Emprego catalogou neste ano, até o dia 1º deste mês, 111 acordos de redução de jornada com diminuição proporcional de salários fora do Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Segundo levantamento feito pela plataforma salarios.org.br a pedido do Valor, a grande maioria das negociações, 71, foi conduzida por empresas do setor metalúrgico.

Por outro lado, as dificuldades das negociações salariais do segundo semestre têm como exemplo de impasse os bancários. A categoria – formada por mais de 500 mil trabalhadores em todo o País – entrou em greve no dia 6. Eles reivindicam reajuste de 16%, enquanto os bancos oferecem 5,5%. “Poucas vezes a diferença entre o que se pede e o que é oferecido ficou tão distante”, diz Hélio Zylberstajn, coordenador da pesquisa de negociação salarial da Fipe.

A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) afirma que a proposta mais ampla inclui o reajuste, um abono de R$ 2,5 mil e a participação nos lucros (PLR). Esse conjunto aplicado, por exemplo, ao piso salarial de um caixa bancário, de R$ 2,56 mil, pode garantir até o equivalente a quatro salários. “Essa proposta resulta num aumento de remuneração para a categoria que cobre a estimativa de inflação para os próximos 12 meses”, diz a Fenaban.

“Os bancos estão sendo oportunistas e querem se aproveitar da crise para acabar com o modelo de aumento real”, rebate a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e região, Juvandia Moreira. Ela afirma que, ao contrário de outros segmentos, “o momento não está difícil para o setor bancário, cujo lucro cresceu 27% nos seis primeiros meses do ano, para R$ 36 bilhões”.

Os bancários conquistam aumentos reais, acima da inflação, desde 2004. Segundo a sindicalista, a proposta atual, se aprovada, “elimina os ganhos obtidos pela categoria nos últimos dois anos”.

Só reposição

Nos últimos 14 anos, os trabalhadores representados pela Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos da CUT (FEM/CUT) conseguiram aumento real nos dissídios, muitas vezes após greves. Neste ano, boa parte deles, incluindo os do ABC paulista, fechou acordos apenas com a reposição da inflação, de 9,8% em um ano, parcelada em duas vezes: 7,88% em setembro e 2% em fevereiro.

“Chegávamos para negociar num ambiente em que as empresas estavam anunciando lay-off (dispensa temporária de trabalhadores) e adesão ao PPE (Programa de Proteção ao Emprego)”, diz o presidente da FEM/CUT, Luiz Carlos da Silva Dias. “É uma situação atípica em relação a outros anos.”

Um dos setores que assinaram acordo com a federação foi o de máquinas. Neste ano, o setor de máquinas demitiu, até julho, 35 mil trabalhadores, cerca de 8% de seu efetivo. “As negociações estão muito difíceis porque o setor industrial enfrenta talvez a crise mais grave dos últimos 30 anos”, afirma Hiroyoki Sato, diretor executivo da Associação Nacional da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). (Valor Econômico)

Campo Largo

Em setembro, trabalhadores da Caterpillar-Campo Largo, aprovaram, durante assembleia realizada pelo Sindimovec, adesão ao Plano de Proteção ao Emprego (PPE), como forma de evitar mais demissões. Entre agosto de 2014 e agosto deste ano, houve uma redução de 26% na força de trabalho da empresa e mais de 200 demissões ocorreram no período. O PPE, proposto pela empresa, abrange os meses de outubro, novembro e dezembro, podendo ser prorrogado até completar 12 meses de programa, e alcançará 90% dos trabalhadores da multinacional.
Com essa aprovação, a empresa poderá reduzir o salário dos trabalhadores em 15%, e em 30% a jornada de trabalho, garantindo o emprego de mais de 500 colaboradores.

 

 

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