O dia do trabalhador e a greve geral

Manifestação operária em 1º de maio de 1919 no Rio de Janeiro

Embalados por vitórias pontuais oriundas de greves em 1827, 1832 e 1840, em 1850 nos Estados Unidos surgem as “Ligas das Oito Horas”, que passam a comandar a campanha nacional de redução de jornada de quinze horas diárias para oito. Em 1884, a Federação dos Grêmios e Uniões organizadas dos EUA e Canadá convoca uma greve geral para exigir a redução de jornada para todos assalariados. Como maior parte das renovações dos contratos coletivos nos Estados Unidos eram em maio a data escolhida para iniciar a greve foi  primeiro de maio de 1886.

A Greve superou as expectativas com mais de cinco mil fábricas paralisadas e cerca de 340 mil operários nas ruas. No mesmo dia várias empresas cederam, no mês seguinte também e até o final do ano cerca de um milhão de trabalhadores já estavam no regime de oito horas.

Porém, a truculência e violência sempre foram utilizadas para oprimir as lutas por direitos dos trabalhadores e a polarização atingiu seu ápice em Chicago. Com quase todas as fábricas em greve, a explosão de uma bomba em um protesto que levou a morte um policial foi o estopim para o conflito.

No dia quatro de maio, 38 operários foram mortos e 115 ficaram feridos. Estado de Sitio foi decretado em Chicago, impondo toque de recolher, exército nas ruas dos bairros operários, fechamento de sindicatos e mais de 300 lideres grevistas presos e torturados (desse acontecimento histórico surgiu o primeiro de maio – dia do trabalhador) .

“Os Oito Mártires de Chicago” (os sindicalistas Adolf Fischer, George Engel, Albert Parson, Louis Lingg, Samuel Fielden, Michael Schwab e Oscar Neebe e o jonalista August Spies) foram presos, sete condenados a morte e um à 15 anos de prisão. Após uma onda de protestos três tiveram suas penas reduzidas.

Em 11 de novembro de 1887 Spies, Fisher, Engel e Parson foram enforcados e enterrados em um cortejo com cerca de 25 mil operários; Lingg “suicidou-se” misteriosamente em sua cela um dia antes.

Em 1890, o Congresso dos EUA regulamentou a jornada de oito horas diárias. Em 1891, a Segunda Internacional, com a presença de 367 delegados de mais de 20 países declarou o primeiro de maio como o dia de luta de classe e de reivindicação das oito horas de trabalho.

O processo dos “Mártires de Chicago” foi reaberto em 1893 e todos foram considerados inocentes e vitimas de um erro judicial.  A primeira convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919 estabeleceu a jornada de oito horas e 48 horas semanais.

No Brasil, a primeira greve geral foi há 100 anos. Por conta da I Guerra Mundial passamos a exportar alimentos, o que afetou os mercados nacionais levando a escassez de produtos e ao aumento dos preços. Os salários não acompanhavam a escalonada no custo de vida e em julho de 1917 começa no Brasil a primeira Greve Geral de sua história. As reivindicações eram:

• Liberdade às pessoas detidas por conta da greve;

• Respeito ao direito das associações e sindicatos dos trabalhadores;

• Que nenhum operário fosse demitido por participar do movimento grevista;

• Fim da exploração do trabalho de menores de 14 anos;

• Proibição do trabalho noturno para menores de 18 anos;

• Proibição do trabalho noturno para mulheres;

• Aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 (cinco mil réis) e de 25% para os mais elevados;

• Data certa para o pagamento dos salários, a cada 15 dias, o mais tardar, cinco dias após o vencimento;

• Garantia de trabalho permanente;

• Jornada de oito horas e semana de trabalho de cinco dias;

• Pagamento de 50% em todo o trabalho extraordinário (horas extras).
Mesmo com o Estado e a Mídia contrários ao movimento, a greve foi vitoriosa, pois após um mês de duração conquistou aumentos entre 15 a 30%. Porém a principal conquista da greve foi política: os patrões passaram a reconhecer os movimentos operários como instância legitima, obrigando-os a negociar com os trabalhadores. O que levou a avanços em outros pontos das reivindicações nos anos seguintes, até a inclusão de demandas dos trabalhadores na CLT em 1943 como a jornada de oito horas com limite de duas horas diárias de hora extra.

A opressão no dia-a-dia no trabalho, a repressão policial, casos mal explicados que justificam massacre durante protestos e condenações judiciais, entre outras são práticas comuns, utilizadas para coibir lutas por melhorias na condição de vida dos trabalhadores e trabalhadoras.

Hoje, direitos conquistados na luta, estão colocados em risco. A reforma da Previdência aumenta o tempo de contribuição e de idade para se aposentar, sem considerar as diferenças sociais e a péssima distribuição de renda nos pais, condenando os mais pobres a morrerem trabalhando. A reforma trabalhista, flexibiliza a CLT, o que quer dizer que podemos perder as férias, 13°, horário de almoço e até mesmo aumentar a jornada de trabalho.

A luta continua!

Por Edjane Rodrigues e Cibele Vieira (Secretárias de Juventude da CUT e CUT-SP, respectivamente)

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