Um ano da mobilização histórica dos trabalhadores de Campo Largo

Ações organizadas pelos sindicatos que formam o Conselho Intersindical (Consindi) pararam atividades em escolas, transporte público e também na Metalsa, montadora multinacional mexicana instalada na cidade. Pautas como reforma da previdência e reforma trabalhista foram prioritárias

O dia 28 de abril de 2017 foi histórico para Campo Largo. Nesta data, no centro da cidade, metalúrgicos, professores, servidores públicos, advogados, religiosos, estudantes, secundaristas e políticos ocuparam as ruas para a livre manifestação. Houve distribuição de material informativo sobre as reformas do governo federal, além de coletar assinatura contra a reforma da previdência. A ação reuniu aproximadamente duas mil pessoas, um recorde para a cidade.

No mesmo dia, pelo Brasil, aproximadamente 40 milhões de trabalhadores paralisaram as atividades. No Paraná, cerca de 200 mil. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas concluiu que as menções a greve geral superou, nas redes sociais, as manifestações pró-impeachment em 2015 e 2016. O dia da Greve Geral foi considerado o maior da história. Com a unificação de centenas de entidades sindicais e movimentos sociais, todos contrários às propostas de reforma da Previdência Social (PEC 287) e Trabalhista (PL 6787/2016).

Mas a questão é: após um ano, o que mudou? “De lá pra cá a Reforma Trabalhista foi aprovada. A Reforma da Previdência ainda é uma dúvida. Porém, se fizermos um resgate, o que o movimento sindical previu, aconteceu. Hoje temos a precarização do trabalho e a informalidade aumentando”, explica Adriano Carlesso, presidente do Sindimovec.

Brasil pós Reforma Trabalhista

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2017 os indicadores do mercado de trabalho brasileiro apresentaram melhora. Porém, mesmo que a taxa de desocupação tenha caído quase 2 pontos percentuais, entre o primeiro e o último trimestre, terminou o ano em 11,8%, o que não significa avanço. Os números apenas retornam ao mesmo nível do final de 2016 (12,0%) – dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas qual é o custo, na qualidade de vida do brasileiro, para que alguns números sejam apresentados como “positivos”? A realidade é que o número de ocupados passou de 90,3 milhões de trabalhadores, no final de 2016, para 92,1 milhões, no fim de 2017. Ou seja, 1,8 milhão de pessoas conseguiram ocupação, aumentando o número de trabalhadores informais ou que trabalham por conta própria (foram criadas 2,6 milhões de vagas informais). Os empregadores somaram 263 mil.

De qualquer forma, o que estava desenhado e foi insistentemente avisado pelas entidades de classe é que o emprego formal, aquele trabalho regularizado e amparado pela legislação trabalhista, teve redução de quase 982 mil ocupações entre o final de 2016 e o ano de 2017. Para o Dieese, a precarização do trabalho aumentou em quase todos os segmentos (exceto no setor agrícola, que registrou redução do emprego formal e do informal). Os dados mostram que houve piora na educação, saúde, serviços sociais e também na administração pública.

Nas áreas onde a formalização é maior, o número de trabalhadores informais aumentou em 322 mil pessoas (serviços sociais) e em 191 mil (administração pública), enquanto as ocupações formais tiveram, em ambos os setores, redução de 257 mil vagas.

Na indústria, a taxa de formalização, que era de 66,7%, no final de 2016, caiu para 63,6%, com aumento de 473 mil pessoas ocupadas informalmente ou por conta própria e o fechamento de 20 mil empregos formais. O movimento se repetiu na construção, no comércio e em praticamente todos os segmentos de serviços.

Até no setor de informação, comunicação e atividades financeiras, no qual a taxa de formalização é relativamente alta (64,2%, no último trimestre de 2017), o número de trabalhadores informais e por conta própria cresceu mais (quase 328 mil) do que o de formais (60 mil pessoas). Já entre os operadores de instalação e máquinas, a taxa de formalização caiu de 61,0% para 58,5%, entre o final de 2016 e 2017.

Também em ocupações como vendedores do comércio e mercados houve aumento de 1,7 milhão de informais e redução de 333 mil empregados formais. Também entre os mais qualificados, assim como operários, se ampliou em 542 mil os postos de trabalho informais e uma queda de 374 mil formais. “Já é possível afirmar, de uma maneira geral, que as mudanças na legislação trazidas pela Reforma Trabalhista pioraram as relações de trabalho no país”, completa Carlesso, presidente do Sindimovec.

De lá pra cá

No dia 28 de abril de 2017 fazia sol em Campo Largo. Clima propício para uma boa caminhada. E foi assim que aconteceu. Antes, mais de duas mil pessoas fizeram uma breve oração pedindo união entre os trabalhadores, depois percorreram a Rua Domingos Cordeiro, Rua Centenário, Rua Barão do Rio Branco e retornaram à Praça do Museu. As atividades continuaram com a abertura do microfone, no caminhão de som, aos cidadãos.

Uma das características do ato foram as diferentes gerações que participaram dos protestos. Havia muitos estudantes, secundaristas, skatistas, etc. Todos na luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras. O importante é que tanto o Sindimovec quanto as outras entidades de classe provaram ser agentes transformadores da sociedade.

Atualmente, por exemplo, o Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo está no Conselho Municipal do Trabalho, assim como no Conselho Estadual do Trabalho, tendo o dirigente Adriano Carlesso como presidente, além de participar do Comude (Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico) e do Conselho da Mulher. Assim como as atividades sindicais clássicas, como a defesa dos trabalhadores metalúrgicos da Caterpillar, Fiat e Metalsa.

Para o Sindimovec, como escreveu o professor Marcio Pochmann, do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas, “o Brasil segue condenado a repetir no presente o que se conheceu somente no passado distante: o atraso do subdesenvolvimento e a exclusão avassaladora de muitos”.

Para finalizar, fica a mensagem do Papa Francisco, na “Missa de São Pedro e São Paulo”, no dia 28 de junho de 2017, quando endereçou sua fala aos delegados da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (CISL): “não há uma boa sociedade sem um bom sindicato e não há um sindicato bom que não esteja dentro das periferias com objetivo de transformar o modelo econômico”.

Francisco continuou afirmando que a profecia é a vocação mais verdadeira do sindicato, é a “expressão do perfil profético da sociedade”. Ele também alertou que nas sociedades capitalistas avançadas, o sindicato corre o risco de perder esta natureza profética e se tornar demasiado semelhante às instituições e aos poderes.

Portanto, se você perguntar onde está o Sindicato dos Metalúrgicos de Campo Largo no atual contexto político e econômico brasileiro, não esqueça: está na luta, como sempre, por melhoras para a sociedade. “O capitalismo do nosso tempo não compreende o valor do sindicato, porque esqueceu a natureza social da economia. Este é um dos maiores pecados” – Papa Francisco.

Consindi

O protesto no centro de Campo Largo foi promovido pelo Consindi, que é composto por Sindimovec, Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta (SSPAD), Sindicato do Magistério Municipal (SMMCL), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Porcelana (Sinpolocal), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Cerâmica do Piso de Campo Largo e São Mateus (Sindipiso) e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cal Cimento e Gesso de Rio Branco do Sul (Simencal). As entidades são filiadas a Nova Central Sindical de Trabalhadores do Estado do Paraná (NCST).

 

Por Regis Luís Cardoso (texto e fotos).

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