O trabalhador que trocou as luvas de soldador pelas de MMA

Diego em Campo Largo na loja Royal Outlet (*Foto: Regis Luís Cardoso)

Aos 17 anos ele era metalúrgico, hoje, aos 35, é lutador profissional. Conheça a trajetória de Dieguinho Santos, o campolarguense que representará o Brasil num evento de artes marciais mistas na Rússia

Sou tipo Samurai”, diz Diego Fortunato dos Santos, 35 anos, lutador profissional de MMA (artes marciais mistas). Natural de Campo Largo, ‘Dieguinho Santos’, como é conhecido, embarcou hoje (04), lá no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, com destino à Rússia. É que no dia 08 de abril ele irá representar o Brasil em Grózni, capital da República da Chechênia. Será sua estreia internacional enfrentando o russo Khusein Maltsagov, num dos maiores eventos de MMA do país, o Berkut Young Eagles.

E quando Dieguinho começou com esse papo de Samurai, deu pra perceber que a referência não é por acaso. Na verdade, o lutador segue alguns dos pilares culturais dos soldados japoneses: disciplina, lealdade e habilidade. Então, nesse #PerfilDoTrabalhador, você irá conhecer uma trajetória ‘literalmente’ de luta desse ex-metalúrgico, que hoje é professor faixa preta de Muay thai e Jiu-jitsu, além de lutador profissional.

“Sempre gostei da área metalúrgica. Via aquilo como um treinamento. Na Gans, por exemplo, era um trabalho muito pesado, muita marretada. Aquilo me influenciava. Ficava o dia todo no serviço, na mão dura, na mão de pedra. Aí a noite trocava as luvas de soldador pelas luvas de MMA” – Dieguinho Santos (DS)

Diego começou a trabalhar como metalúrgico aos 17 anos, em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba. Ficou três anos na Prosuport e quinze na Metalúrgica Gans. “Minha direita derruba. Já derrubava na época das marretadas”, brinca. Ele conta ainda que devido ao seu estilo ‘marreta’, escuta “reclamações” de amigos. “Os caras esperam até cinco horas pra me ver lutar. Aí quando entro no octógono a luta dura quarenta segundos!”.

*Arquivo Dieguinho Santos

Ele explica ainda que o chamam de “Dieguinho Formiga Atômica!” devido a essa “pressa”. Quando questionado sobre seu estilo, ele também é rápido: “Sou striker. Gosto de sair na porrada mesmo– DS

Com 25 anos de vivência no mundo da luta e quatro anos e meio vivendo do esporte, hoje ele tem empresário, nutricionista e preparador físico. Já lutou nas categorias de peso-mosca (57 kg), peso-galo (61 kg) e peso-casado (63,5 kg). Tem dois cinturões e dez vitórias consecutivas. São 24 lutas na carreira, com 17 vitórias e sete derrotas. São oito nocautes e duas finalizações.

Em busca dos cinturões

O lutador paranaense conta que seu primeiro cinturão foi uma ‘zebra’. Ele explica que estava numa competição representando outra equipe, não era oficialmente do time, mas das três lutas da noite, só ele venceu.

*Arquivo Dieguinho Santos

Os outros dois que já recebiam patrocínio perderam. Aí eu entrei, fui lá e ganhei o cinturão. Salvei a noite– DS

Foi nesse período que Diego firmou sua parceria com o Mestre Madison, hoje seu empresário. Logo na sequência, chamou atenção ao vencer o nipo-brasileiro Shyudi Yamauchi na sua primeira participação no “Imortal FC”.

Fiz um ‘lutaço’. Ganhei do cara. Pra mim foi a melhor luta da minha vida. Três rounds de muita porrada e sangue até não querer mais. Ganhei por decisão unânime– DS

O paranaense vem crescendo. Em janeiro deste ano conquistou o cinturão na competição “Face the Danger – Copa Strike´s House”, em Curitiba. Agora, após aproximadamente dois anos esperando um bom contrato, vai fazer sua primeira luta internacional.

E uma das curiosidades, quando o assunto é MMA, é a preparação para essas lutas. Aquela rivalidade na hora da pesagem e a comemoração quando o atleta ‘bate o peso’. Diego explica que tudo isso faz parte da luta.

*Arquivo Dieguinho Santos

A luta começa quando você aceita o desafio. Já tem um processo de treino diferenciado, uma dieta. São quatro treinos por dia. A gente perde peso comendo. Treinando um monte. Fazendo as seis refeições. Bebendo muito água. Então a primeira vitória, antes de entrar no octógono, é o peso– DS

Uma história de luta

Aos 35 anos, Dieguinho está no seu auge e, sabendo das dificuldades que é ser um atleta de MMA no Brasil, é bem provável que em 2019 vá morar em outro país.

O objetivo é sempre melhorar o rendimento como atleta. Também a parte financeira. Lá fora é muito mais fácil de conseguir as coisas. É provável que eu vá para Toronto, no Canadá– DS

A verdade é que muita coisa mudou desde sua época de ‘mecânico montador e soldador’ até tornar-se um atleta profissional. Ele lembra que desde os treze anos já gostava de lutar e com bom humor resume seu início de carreira.

Desde a época do Jaspion sou apaixonado por luta! Começou como brincadeira e se tornou profissional. Primeiro na Capoeira, depois no Muay thai e no Jiu-jitsu. O engraçado é que meu primeiro treino de Muay thai foi perto de um rio. Num gramadão. Foi aí que eu me apaixonei por boxe tailandês” – DS

Quando Diego ainda trabalhava na área metalúrgica, tinha uma vida corrida. Além do trabalho semanal, fazia bico como segurança nas baladas.

Chegou um momento em que eu tive que focar numa coisa só. Aí escolhi ser atleta. Ser professor de Muay thai e de Jiu-jitsu. Correr atrás desse objetivo. Hoje eu vivo do esporte– DS

Mas mesmo se destacando no MMA, ele não tem apoio de grandes empresas ou do município de Campo Largo, sua cidade natal e onde mora. Porém, como um Samurai, ele levanta cada vez mais forte e usa uma luta recente para exemplificar sua força.

*Arquivo Dieguinho Santos

“Fiz uma luta enquanto passava por um problema pessoal. Eu entrei no octógono contra um cara muito forte, um cara de 45 anos, muito bem preparado. Eu sabia que ele era ruim no chão e eu podia trabalhar isso contra ele. Mas acabei entrando na ‘trocação’. Tomei duas ‘bomba’ na cara e dobrei duas vezes as pernas. Quase apaguei, mas consegui terminar o primeiro round. Quando começou o segundo, me concentrei e finalizei ele com um mata leão” – DS

Essa luta fez com que ele focasse ainda mais na sua carreira e na sua família. Depois desse combate ele cresceu como lutador e como pessoa.

Minha mãe nunca foi ver uma luta minha. Meu pai (que não está mais aqui) a mesma coisa. Mas eu fico muito feliz quando vou aos estabelecimentos no meu bairro e os outros falam que meu pai tinha orgulho de mim… como lutador” – finaliza Dieguinho Santos.

 

Por Regis Luís Cardoso.

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